L. A. MELO
O
NÁUFRAGO
As
aventuras de Shlomô Ben-David num ilhéu da Macaronésia
ZYENKAC
Natal
2018
Capa:
Prose (2018)
Pintura de
L.A.MELO
Título
original:
O NÁUFRAGO:
As aventuras de um Shlomô Ben-David num ilhéu da Macaronésia
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direitos reservados. Copyright© 2018 para a língua portuguesa da ZYEnkac Strategic Partners.
© ZYEnkac Publicações Independentes,
Natal, 2018
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B119
Melo, L.A., 1986-
O NÁUFRAGO: As
aventura de Shlomô Ben-David num ilhéu da Macaronésia. /
Leonardo Araújo de Melo; Natal : ZYEnkac Publicações Independentes, 2018.
130 p.
ISBN
1. Literatura. 2. Ficção
Fantástica – Aspectos míticos-religiosos. 3. Teologia. 4. Ciências da Religião
5. Mitologia I. Melo, Leonardo Araújo
de. II. Título.
CDD 230 – Literatura (Fantasia)
DEDICATÓRIA
Para
Natanael, Maria José e Mayara.
AGRADECIMENTOS
Aos
professores Douglas Vakoch, Raplh Hawkins por dicas de
materiais.
MAPAS
AMBIENTAÇÃO
1.NARRADOR
O Náufrago: As aventuras de Shlomô Ben-David num ilhéu da
Macaronésia é um romance escrito por L.A.Melo e publicado
originalmente em 2018 no Brasil. Epistolar, confessional e didático em seu
tom, a obra é a autobiografia fictícia do personagem-título, um náufrago
que passou 21 anos em uma remota ilha
tropical próxima a Trindad, encontrando canibais, cativos e revoltosos antes de ser resgatado. O livro, de cunho filosófico, foi
originalmente publicado na forma de contos na obra O Explorador: Contos seletos ambientados no mundo fantástico de Theabos,
sendo o primeiro romance "experimental" do autor.
Supõe-se que o enredo básico tenha sido influenciado pelas
histórias de Alexander Selkirk (um náufrago escocês que viveu durante quatro anos
em uma ilha do Pacífico chamada "Más a Tierra" - renomeada em
1966 para Ilha Robinson Crusoe). Os aspectos do ilhéu onde
Shlomô (cujo nome significa
"Pacífico") viveu provavelmente foram baseados no ilhéu macaronésio
de Vila França no Açores. É também provável que Melo tenha sido
influenciado pelos romances O Filósofo
Autodidata (de Ibn Tufail) e Robinson
Crusoe (de Daniel Defoe), que também giram em torno de um personagem
isolado em uma ilha deserta. Julga-se ainda que o protagosista seria um
arquétipo do sábio (figura presente nos textos sapienciais das tradições antigas).
Os livros bíblicos de Provérbios e Eclesiastes podem ter sido algumas das
fontes inspiradoras da narrativa.
O
autor narra a história de Shlomô desde seu nascimento numa ilha em um lugar
não-especificado no hemisfério Norte, e relata o desenvolvimento de suas
faculdades intelectuais, seguindo um esquema de sete septênios (períodos de
sete anos). Shlomô nasce de uma relação proibida de sua mãe, que é obrigada a
colocar o recém-nascido numa arca e abandoná-lo na praia. A arca com o bebê é
levada pela maré a uma outra ilha deserta vizinha.
Primeiro septênio (Nascimento - 07 anos)
Nos
seus primeiros sete anos, Shlomô é criado por uma gazela, que o alimenta e protege como se fosse sua mãe. O menino
vai crescendo entre os animais no mundo natural e nota as diversas desvantagens
de seu corpo, desprotegido e sem armas, em comparação com outros seres. Para
resguardar-se, fabrica para si uma roupa de folhas, que, no entanto,
continuamente secam e caem.
·
Segundo septênio (07 - 14 anos)
Morre
a gazela que se fazia de mãe para Shlomô. O menino de sete anos, consternado,
examina o corpo dela a fim de encontrar a fonte do mal que provocara sua morte.
Não achando o mal no corpo, infere disso a existência da alma.
·
Terceiro septênio (15 - 21 anos)
Dos
15 aos 21 anos de idade, Shlomô adquire o conhecimento da técnica. Passa a examinar todas as várias espécies animais, vegetais
e minerais. Conhece também o fQayin. Melhora suas condições de vida, fabricando
diversos utensílios úteis para seu dia-a-dia. Domestica animais para seu uso.
·
Quarto septênio (22 - 28 anos)
Shlomo
obtém o Conhecimento teórico. Medita sobre a essência da matéria e seus diversos estados e atributos. Estabelece a
forma e a extensão como atributos da matéria. Esboça-se em seu pensamento uma
vaga idéia de um Criador da forma.
·
Quinto septênio (29 - 35 anos)
Shlomo
observa o céu e seu movimento. Ocupa-se com uma dúvida: seria o universo algo
que sempre existiu ou teria começado a existir em certo momento a partir do
nada? Por raciocínio, chega a conclusão da existência de um Ser Absoluto, criador do universo -- a
causa, da qual a criação é a conseqüência. Investiga e descobre os atributos
desse Ser Absoluto.
·
Sexto septênio (36 - 42 anos)
Tendo
conhecido Deus, Shlomô passa a refletir sobre a essência humana e suas
particularidades, sua própria essência e sobre a essência do Ser Supremo.
·
Sétimo septênio (42 - 49 anos)
Nesta
etapa, Shlomô compreende que possui uma parte semelhante aos animais, uma parte
semelhante aos corpos celestes e uma parte semelhante ao Ser supremo. A
partir daí, começa a praticar exercícios em busca da ascese a da
"união mística" com Deus. Atinge, pelo êxtase, este estado último com
perfeição, desligando-se e retornando ao mundo físico sensível à vontade.
·
Shlomô entre os homens
Após
ter completado 50 anos e ter atingido a grau máximo de sabedoria, Shlomô
Ben-David encontra-se pela primeira vez com um outro ser humano -- Hirão. Este
era um anacoreta que havia ido para a ilha habitada por Shlomô para isolar-se da
sociedade. Lá, ele conhece Shlomô e ensina-lhe a linguagem. LQayin, Hirão
percebe que, por via da intuição e da razão, Shlomô tornara-se um grande sábio.
Hirão relata a Shlomô sobre a tradição religiosa dos homens e seus aspectos
exteriores e Shlomô deseja ir ter com esses homens e falar-lhes da via direta
de contato com a divindade. Não sendo bem sucedido em seu intento, Shlomô e Hirão
retornam à ilha, no afã de vivem até o final da vida em êxtase místico, porém
sua embarcação naufrága. (Ver história de José Salvador
Alvarenga)
2. TEMPO
Uma pré-história dos Açores
As
referências a uma estátua equestre na ilha, moedas cartaginesas e cirenaicas, e as inscrições
existentes na falésia da costa da ilha, apesar de nunca aceites pela
historiografia oficial, parecem indiciar a visitação humana ao arquipélago
na Idade Antiga.
Com
a queda do Império Romano do Ocidente, o declínio do mundo clássico na Europa ocidental durante a Alta Idade Média, e o encerramento do Mar Mediterrâneo diante da expansão Islâmica, o conhecimento da existência de terras a oeste da Europa continental foi
progressivamente relegado para o reino do mito. Comprovam-no as múltiplas
lendas medievais acerca da Atlântida, das Dez Cidades, das
terras de São
Brandão,
das ilhas venturosas, da ilha do Brasil, da Antília, das Ilhas Índigas, da Terra dos Bacalhaus, e de muitas outras terras perdidas no oceano Atlântico.
Na
última metade do século XIV, com o advento da Revelação, começam a surgir múltiplos roteiros
e cartas de marear onde aparecem, em posições e com configurações mais ou menos
fantasiosas, muitas dessas ilhas e terras. Nessa época, o retomar dos contatos
comerciais e das navegações entre o Mediterrâneo e o Atlântico, nomeadamente as navegações genovesas, florentinas e venezianas, bem como o surgimento
de melhores embarcações e de um crescente fervor prosélito no sentido de levar
o cristianismo para fora da Europa, foram progressivamente
expandindo os horizontes europeus e recriando antigas ligações.
Com
este movimento de expansão, onde de forma crescente Portugal tomava parte, graças à
sua localização geográfica e à crescente mestria nas artes da construção naval
e da navegação oceânica, naturalmente a procura das ilhas do mar ocidental rapidamente se tornou
prioritária. Neste contexto, o empenho do Infante D.Henrique na expansão atlântica, assumindo o papel de grande mecenas e de coordenador do
esforço de exploração, contribuiu de forma decisiva para colocar Portugal na vanguarda do
povoamento das terras atlânticas.
As
ilhas atlânticas mais próximas da
Península Ibérica
(Açores, Canárias e Madeira), que hoje são coletivamente designadas por Macaronésia, designação com raízes
nas míticas ilhas Venturosas, foram desde sempre encaradas como uma
unidade geográfica, o que se traduz numa historiografia comum e num povoamento
onde as mesmas famílias aparecem em todos os arquipélagos (os Bettencourt, os Câmara, os Álamo, os Baldaia e muitos outros). É
disso também exemplo a obra seminal da historiografia insular, as Lembranças
do Lar, do açoriano
Gaspar Frutuoso,
que trata igualmente da história dos três arquipélagos.
As
primeiras informações relativas ao arquipélago dos Açores remontam às viagens
marítimas empreendidas pelos europeus no século XIV, nomeadamente a partir de Portugual sob os reinados de D.Diniz (1279-1325) e do seu sucessor, D. Afonso IV (1325-1357).
As
atividades de Portugal no chamado "Mar Oceano"
(Oceano atlantico) iniciaram-se no tempo de D. Diniz, a partir da nomeação do Almirante-mor Nuno Fernandez CQayinminho, seguido da contratação
do Gênovês
Manuel Pezagno,
para o cargo. Com efeito, os portulanos (antiga
carta náutica Europeia, que tinha, que tinha a função de fornecer
direções e distâncias aproximadas entre os principais portos europeus e africanos) genoveses conhecidos até essa
data não fornecem qualquer indicação sobre ilhas no Mar Oceano. A partir de então,
entretanto, registam-se:
·
1325 - portulano de Angelino Dolce, assinala uma ilha, a
oeste da Irlanda, denominada como "Bracile";
·
1339 - portulano de Angelino Dolce, assinala não
apenas a ilha "Bracile", como outras, nas alturas dos atuais arquipélagos das Canárias (descoberto
anteriormente a Agosto de 1336 pelos portugueses e nomeando a Canária, Lançarote, Forteventura e outras) e da Madeira, e ainda a "Capraria", que alguns
autores associam ao conjunto das atuais ilhas de Santa Maria e São Miguel.
Esses
indícios por si só, no entanto, não constituem elementos seguros para se
afirmar se testemunham da visita (deliberada ou incidental) de navegantes ao
serviço de Portugal, ou se se trata somente
de ilhas fantásticas (veja-se a esse respeito as lendas da Atlântida, das Dez Cidades, das
terras de São
Brandão,
das ilhas venturosas, da ilha do Brasil, da Antília, das Ilhas Índigas, da Terra dos Bacalhaus, por exemplo).
Outros
autores pretendem que o conhecimento das ilhas dos Açores teve lugar quando do
regresso das expedições às Canárias realizadas por volta de 1340-1345, no reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Data de c. 1345 o chamado "Tomo
do Reconhecimento", volume anónimo atribuído a um frade mendicante de Sevilha, que teria acompanhado
essas expedições portuguesas, onde são descritas diversas ilhas:
"(…) Chegamos a primeira ilha que
chamam gresa e posteriormente
a ilha do lançarote
(…) bezimarin
(…) rachan
(…) alegrança
(…) uegimar
(…) forte ventura
(…) canária
(…) tenerife
(…) del infierno (…)
gomera (…) de lo ferro (…) aragauia (…) saluage
[Ilhas Selvagens, no arquipélado da Madeira] (…) a ilha deserta (…) porto
sagrado (…) a ilha do lobo [Ilha do Lobo ou do Ovo, atual Santa Maria], e a outra ilha das cabras [Ilha de São Miguel], e a outra ilha do brasil [Ilha Terceira], e a outra a pomba [Ilha
do Corvo], e a outra a ilha da desventura [Ilha do Faial], e a outra ilha de sant Jorge
[Ilha de São Jorge],
e a outra a ilha dos coelhos, e a outra ilha dos corvos marinhos [ilha das
Flores]."
Após esta descrição, manter-se-ão os nomes das ilhas dos Açores nas cartas náuticas,
por mais de um século:
·
1351 - o Portulano Mediceo Laurenziano (Atlas Laurentino, Atlas Mideceu), atualmente na
Biblioteca Medicea
Laurenziana,
em Florença, na Itália, , assinala um grupo de
dez ilhas, dispostas no sentido norte-sul, designadas por "ilha do lobo
e da cabra [Santa Maria e São Miguel], ilha do Brazil [Terceira], ilha da desventura [Faial], Pomba [Pico], Corvos Marinhos
[Flores]"
e quatro outras sem designação.
·
1375 - o Atlas Catalão, de Jehuda Cresques, atualmente na
Biblioteca Real da França, em Paris, que, que já nomeia a ilha de São Jorge.
·
1384 - o Atlas
Pinelli-Walckenaer, atualmente na Livraria Britânica, assinala da ilha de Santa Maria.
·
c. 1384 - o Atlas Corbitis, atualmente na Biblioteca Real Marciana, assinala as ilhas dos Açores.
·
1385 - o portulano maiorquino de Gulermo Soleri (também grafado
como Solerio), na Biblioteca Real da
França, assinala as ilhas
anteriormente apontadas e mantém a indicação da "Lupina e Ovina" (Santa Maria e São Miguel).
·
1413 - o portulano de Mecia de Viladestes, também na Biblioteca
Real da França, assinala a ilha de Santa Maria.
·
1435 - o portulano do genovês Battista Beccario, que assinala a maior parte das ilhas dos Açores como "ilhas
novamente registradas".
·
1439 - a carta de Gabriel de Vallseca (ou
Valsequa)
traz a indicação sobre o arquipélago: "Estas ilhas foram achadas por DiQayin de Silves (ou Sunis?) capitão do Rei de Portugal no ano de 1427".
Sobre a primazia do descobrimento português dos Açores muito se tem escrito, sendo difícil, por vezes, avaliar qual a
verdade histórica. Entre os nomes dos primeiros navegadores associados ao
arquipélago, destacam-se os de:
·
1431 - primeira viagem de Gonçalo Velho, identifica apenas os Ilhéus das Formigas (substituir por Aranhas);
·
1432
- Joshua
van der Berg
A Carta-régia de 2
de julho de 1439,
passada por Pedro
de Portugual,
1º Duque de Coimbra, regente na menoridade
de Afonso V de Portugual, refere apenas dez
ilhas nos Açores. Esse número foi
aumentado para doze quando Pedro Vasquez de la Frontera e Diodo de Teive, em 1452, encontraram as ilhas das
Flores e Corvo, então designadas como "Ilhas Primaveris".
Sobre o descobrimento, o cronista DiQayin Gomes de Sintra, referiu em 1460:
"Em certo tempo, o Infante D. Herique, desejando descobrir lugares
desconhecidos no Oceano ocidental, com o intuito de reconhecer se existiam Ilhas ou Terras firmes
além das descritaspor Ptolomeu, , mandou navios em busca destas terras. Partiram e viram
terra ao ocidente tresentas léguas além do cabo - Finis Terrae - e, vendo que
eram Ilhas, entraram na primeira, acharam-na desabitada e andando encontraram
muitos muitas águias-de-asa-redonda, e outras aves; e passando à segunda, que
hoje se chama a Ilha de S. Miguel, que igualmente estava desabitada, acharam muitas aves e
milhafres, assim como abundantes nascentes de águas quentes. Dalí viram outra
ilha que na atualidade se chama Ilha Terceira, a qual à semelhança da ilha de S. Miguel, estava cheia de árvores,
aves e muitos pássaros. (...)
Aqueles navios voltaram a Portugal a comunicar ao referido Infante as descobertas que
tinham feito, com o que ele alegrou-se muitíssimo."
É certo que, a partir de meados da década de 1420, os Açores começaram a ser
regularmente visitados por expedições portuguesas. Com início nas ilhas do Grupo Oriental, mais próximas do
continente europeu, prosseguindo para o
Grupo Central, o reconhecimento das ilhas avançou rapidamente. Todavia, as
ilhas mais ocidentais (Flores e Corvo) só depois de 1450 foram alcançadas
por marinheiros portugueses, quando as restantes ilhas já albergavam uma razoável população
residente. O ingresso destas no domínio português deu-se por Pedro Vasquez de la Frontera e DiQayin de Teive em 1452,
no regresso de uma das viagens para o Ocidente à procura das outras ilhas
míticas, ou talvez no regresso de uma pescaria na Terra dos Bacalhaus (a atual Terra Nova, no Canadá).
As primeiras expedições, para além do reconhecimento das costas
e dos locais onde era possível desembarcar com segurança e fazer aguada, também
se destinaram a lançar animais domésticos (ovelhas, cabras, porcos e galinhas)
que pudessem ajudar a sustentar uma futura presença humana. No que respeita a São Miguel, há também referência a
um grupo de escravos que terá sido deixado na foz do Ribeiro da Povoação por meados da década de 1430.
3. ESPAÇO
(Ver Tagmar- Ilhas
Independentes)
Uma ilha deserta é uma ilha não habitada por humanos,
possuindo como estereótipo da ideia de um "paraíso".
O arquipélago
Juan
Fernández ou João
Fernandes é
um pequeno grupo de ilhas a mais de 600 km de distância da costa chilena.
Com
geografia bastante peculiar, as ilhas do arquipélago vão do nível do
mar até cumes de 1.500 m e possuem alguns ecossistemas endêmicos. Destacando
a importância biológica desse arquipélago, sabe-se que a maiora das
espécies nativas dessas ilhas não podem ser encontradas em qualquer outra parte
do planeta.
Dentre as ilhas do arquipélago, a maior delas
é a ilha de Robinson
Crusoe, com 91 km². Foi nela que
o marinheiro escocês Alexander Selkirk, permaneceu por mais de sete anos. Os relatos do
navegante teriam dado vida a Robinson Crusoe, famoso personagem do livro de Daneil Defoe. Mais tarde,
o nome do personagem foi dado a esta ilha.
A ilha Robinson Crusoe é a única do arquilélago que tem uma
população permanente, de cerca de 500 a 600 habitantes (eram 85 em 2002), vivendo principalmente na vila de San Juan Bautista e seus arredores. A economia local está
baseada na pesaca da lagosta. A sua população está a diminuir, principalmente
porque muitos jovens emigram para o continente (Chile) para obter melhores oportunidades e uma vida menos isolada.
A
ilha foi primeiramente nomeada Santa Cecilia pelo seu descobridor, o capitão espanhol que ali chegou,
oficialmente a 22
de novembro de 1574. Numa época desconhecida, foi também conhecida pelo nome do seu
descobridor e, mais recentemente, por Más a Terra (ou “Mais
Próxima de Terra”)
Depois
do desatre de Rancagua,
em 1814,
durante as lutas pela Independência do Chile, a ilha serviu de prisão para os patriotas ( Juan Egana e outros), na chamada
“Caverna dos
Patriotas”
(monumento histórico desde 1979,
localizada em San
Juan Bautista). Com iguais propósitos
foi novamente usada durante o primeiro governo de Carlos Ibánez del Campo (1927-1931).
Ilhéu de Vila
Franca
São miguel é Sião e vila
franca é Salém :)
Consitui-se
numa pequena ilhota vulcânica, localizado a cerca de 500 metros a norte da
localidade de Vila Franca do Campo na ilha de São Miguel, e 1200 metros do cais do Tagarete, no centro da vila.
Deste
porto existem ligações regulares com o ilhéu durante a época balnear.
O ilhéu diz
respeito a um cone de tufos surtseianos, decorrente de uma erupção vulcânica
submarina de natureza basáltica. O ilhéu é um cone vulcânico de origem
hidromagmática, muito desmantelado pela erosão marinha, pelos movimentos
tectónicos e por assentamentos diferenciais. Na sua constituição predominam os tufos
palagoníticos muito litificados, em formações caracterizadas por forte
fracturação vertical, de que resultam grandes estruturas colunares e algumas
cavidades subaquáticas. Este icónico ilhéu é composto por tufos (rocha
piroclástica de granulometria fina, cinzas ou lapilli) de cor amarelada ou
acastanhada, com uma estratificação nítida e com fragmentos rochosos intercalados,
que configuram a rochas encaixantes semelhantemente projetadas ao longo da erupção.
Este cone
vulcânico acha-se, hoje em dia, relativamente erodido e fraturado em várias
"golas" (ou seja, fendas que o atravessam) e que dividem o ilhéu em
dois: o ilhéu Pequeno e o Ilhéu Grande. Todavia, revela uma cratera nítida, de
forma circular, com 150 metros de diâmetro e preenchida pelo mar, fomentando uma
excelente zona balnear, acessível por transporte marítimo regular a época
balnear, a partir do porto de Vila Franca.
Apresenta
forma semicircular, com uma área total de 95 hectares, dos quais estão emersos
61,6 hectares, com uma abertura por onde o mar penetra livremente na cratera.
A cratera,
com uma profundidade máxima de 20 metros, forma um círculo quase perfeito com
150 metros de diâmetro. A abertura, designada por Boquete, está voltada a
Norte, isto é na direção da costa da ilha, o que impede a entrada da agitação
marítima para o interior.
Apesar do
solo esquelético, o ilhéu foi objeto de cultivo, subsistindo ainda restos das
antigas curraletas de vinha que ocupavam a sua parte alta. héu de Vila Franca
Durante
séculos foi apontado como sendo o local ideal para a construção de um porto de
abrigo, tendo-se, em vários momentos, procedido a estudos e projetos para esse
fim, o último dos quais por volta do ano de 1840.
A ideia apenas foi definitivamente abandonada com a construção do porto de Ponta Delgada.
História
Da descoberta e ocupação
O
povoamento da ilha de São Miguel iniciou-se pela
parte sudeste, na chamada "Povoação Velha", e apenas após mais de um
ano é que Gonçalo Vaz Botelho, o Grande, e a sua
gente, nas palavras do cronista, "correndo a costa para o poente, foram
dar ao ilhéu de Vila Franca". E complementa: "ali
defronte saíram em terra e habitaram, a qual semeando e cultivando lhe
respondeu com muitas e abundantes novidades". Frutuoso afirma ser ainda ser este "o mais
formoso ilhéu que há nas ilhas".
Com
relação às lendas que envolviam o ilhéu o cronista regista ainda que,
mandando o Infante D.Henrique reconhecer
pela segunda vez a ilha de São Miguel, frei Gonçalo Velho "achou primeiro o
ilhéu de Vila Franca, onde saiu sem ver a ilha;
e fazendo dizer nele culto, sem consagrar nela, por lhe parecer que estava no
mar, como em navio, porque era o ilhéu pequeno." E prossegue: "Acabada
o culto, começaram por ouvir uns gritos grandes que eles entendiam ser dos
demônios, que gritavam e diziam - nossa é esta ilha, nossa é! (...) contudo,
desembarcaram e tomaram posse dela, desapossando os demôniose, os enviando aos
porcos, que se precipitaram ao mar."
O
primeiro documento histórico relacionado à ilha é a sua carta de dada a João de Grã, cavaleiro da Ordem de Avis, passada a 13 de Junho de 1537 pelo 7º capitão do
donatário da ilha de São Miguel,
Sor. Manuel da
Câmara,
"para criação de cabras ou outra qualquer criação e proveito que no
dito ilhéu possa melhor fazer'". João da Grã requereu em 1540 ao monarca a
confirmação da dada e o privilégio de que ninguém pudesse ir caçar coelhos ao
ilhéu, contra a sua vontade e sem a sua prévia autorização.
LQayin
após o terremoto de 22 de outubro de 1522 - a que o ilhéu sobreviveu sem maiores danos, constituindo-se
em refúgio para algumas embarcações -, João III de Portugual, a requerimento do capitão do donatário, mandou examinar o
ilhéu para determinar da viabilidade de se construir no seu interior um porto
de abrigo, "(...) e lhe apresentaram o plano de que a sua caldeira
podia recolher 30 navios, devendo-se rebaixar e alargar o boquete e tapar as
fendas que o circundam". Contudo, este projeto não teve execução.
Quando
da crise sísmica que assolou Vila Franca de 25 a 28 de Junho de 1563, novamente o ilhéu se converteu em refúgio de embarcações e
gentes. É ainda o cronista quem refere:
"Muitas pessoas se botavam a nado ao mar, não temendo
esse perigo, por evitar o que na terra tinham, acolhendo-se aos barcos e navios
ancorados e ao ilhéu, onde já estava muita gente acolhida, e para a cidade."
À época da Dinastia Filipina (1580-1640), após a derrota portuguesa na batalha Naval de Vila Franca (26 de julho de 1582) o alto do ilhéu também foi palco de
execuções exemplares, por ordem do marquês de Santa Cruz de Mudela:
"O dia seguinte [2 de agosto de 1582] se viram outras duas
forcas no ilhéu, mas por andar o mar alterado não foi possível fazer-se então
justiça, e assim ficou até o terceiro dia do mês, que se acabou de fazer a
execução dela, enforcando dezoito ou dezenove franceses mancebos bem dispostos.
Dizem ser o intento do Marquês em os mandar enforcar no alto do ilhéu, para
todos os que passassem ao longo dele e da terra, vendo aquela justiça não
usassem semelhantes obras, e temessem outro tal castigo."
Nesse período foram-lhe promovidos trabalhos de beneficiação,
visando o antigo projeto de utilizá-lo como ancoradouro. Para esse fim, a
entrada para a caldeira interior foi cavada a picão, facilitando o acesso a
embarcações de menos de sessenta toneladas, "para passarem ali seguros
o tempo das tormentas e do inverno". E complementa: "Agora
está ornado com um forte muro que lhe defende por ali a entrada do mar e tem a
boca preparada para nele poderem entrar galés.
Cogitou-se ainda a fortificação do mesmo, conforme correspondência
de 5 de julho
de 1593, do
então Governador e Capitão da ilha de São Miguel, Gonçalo Vaz Coutinho, a Felipe II de Espanha, que pleiteava:
"De outra coisa há nesta ilha grandíssima necessidade
assim para os navios dela, como e muito mais para os que vem de mar em fora;
que é o conserto do ilhéu de Vila Franca, sobre que já os anos passados escrevi a V. M., e será pouco de
custo porque eu me atrevo, com três mil moedas de prata fortificá-lo, e
este sem serem da Fazenda de V. M. se não dos dois por cento, porque o sítio do
ilhéu é tal que com pouca fábrica é mister: artilharia temos cá; soldados
pode ir uma esquadra cada mês revezar-se, e assim os bombardeiros. Só será necessário
ordenado para o capitão, escrivão, e dispenseiro e sacerdote, que dos dois por
cento se pode dar. V. M. veja a importância disto que é mui grande, porque será
fazer um porto nestas ilhas de natureza é maravilhoso, dentro abrigado a todos
os ventos, e fora aos mais, e capaz dentro de navios de até 80 toneladas, e
fora de todo o porte."
Poucos anos após essa solicitação, a ilha de São Miguel foi atacada pela armada
inglesa sob o comando de Robert Devereux, 2º conde de Essex, no Outono de 1597, na sequência dos
ataques às ilhas do Faial e do Pico. Gonçalo Vaz Coutinho dispôs a defesa de terra de Ponta Delgada a São Roque, e da Lagoa a Vila Franca do Campo. Aproximaram-se do ilhéu de Vila Franca quatorze galeões ingleses, a pretexto de fazer
aguada. Conforme aquele Governador referiu na sua "Crônica do Triunfo", "foi a tempo que o inimigo vinha
com as suas lanchas para terra e vendo-a [a defesa] tanto em ordem, desistiu do intento
e se recolheu aos navios com a maior presteza." O mesmo documento
relata que aquele governante "salvou quase de suas mãos quatro nossos
[navios] que esperavam carga de trigo, mantidos no Ilhéu, porque lQayin em
chegando mandou a ele Manoel de Escovar, capitão de Artilharia da Ilha [de São Miguel], e duas esquadras de soldados, com os quais, e com a gente dos
navios guarneceu a boca da caldeira [do ilhéu], atravessando nela algumas
âncoras e à mor cautela guarneceu também a faixa de Les-Sueste, com o que
o inimigo de todo desesperou fazer presa, ainda que se deixou andar três dias
sobre o Ilhéu volta ao mar, volta a terra com a demonstração de o tornar a
acometer (...)"
Em 16122 uma postura municipal suspendeu a criação de gado no
ilhéu "pelo inconveniente que há de derrubarem a terra que corre por
ele abaixo", sob pena do que fosse apreendido e pagamento de vinte moedas
de prata para o acusador.
O ilhéu mudou de mãos em 8 de março de 1616, vendido por Leonor de Abreu, Maria Andrade e João de Grã de Abreu, a Fernão
Corrêa de Sousa,
por seu bastante procurador, Jordão Jácome Raposo, morador na vila de Nordeste, conforme instrumento lavrado por Baltasar de Abreu, "tabelião"
de Vila Franca.
Ainda nesse período, em 1624 outra
postura municipal determinou proceder a colocação de "meurões"
(mourões) de cerne, no lado norte, para amarração dos navios, e proibia a
baldeação de lastros sob pena do pagamento de dez moedas de prata para a
indispensável limpeza.
Após a restauração da Independência Portuguesa, o Soberano solicitou
ao então Governador de São Miguel, Luís Mendes de Vasconcelos, o estudo do antigo projeto de construção de um molhe na
caldeira do ilhéu (1654).
Para o efeito foi comissionado o sacerdote Lázaro da Costa Lima, que o estimou capaz de
abrigar quarenta navios e o custo do projeto em seis mil moedas de prata. Mais
tarde, a governação de Vila Franca do Campo, por carta de 18 de setembro de 1680 representou ao Soberano, insistindo no
"conserto" do ilhéu, e, posteriormente ainda, Pedro II de Portugual, em 1691, voltou a determinar o
estudo daquele mesmo antigo projeto.
Em 1703 o
ilhéu passou para a posse do capitão-mor da Ribeira Grande, Pedro da Ponte Raposo, e, em 1708, para a do seu sucessor,
Manuel Raposo
Correia. Passaria,
ainda por sucessão, para o filho deste, António Manuel Raposo e, por morte deste, para a de Francisco Raposo Manuel Correia.
Neste período o sacerdote Antônio Cordiro, sobre a excelente posição do ilhéu, regista que "serviria
também de melhor Fortaleza, como a do Leviatã em a entrada do rio Pisom",
acrescentando que, na sua caldeira, cabiam vinte navios.
Com a criação da Capitania
Geral dos Açores (1766, e por força do impulso
reformador do marquês de Pombal, foram feitos novos estudos para o aproveitamento do Ilhéu,
esbarrando uma vez mais a sua execução com a falta de fundos para financiar as
obras.
No final do século, uma série de relatórios foram produzidos
acerca do aproveitamento do ilhéu, de acordo com o levantamento de Ernesto do Canto.
Nos anos de 1830,
graças ao entusiasmo de João António Garcia de Abranches, o projeto foi retomado, sendo fundada
uma Companhia do Porto de Abrigo Marítimo no Ilhéu de Vila Franca do Campo, dotada de estatutos
com aprovação real de D. Maria II de Portugual. A soberana chegou a oferecer um padrão para ser levantado no
ilhéu e um altar de sacrifício para ser colocado num santuário que ali deveria
ser construído.
Estas intenções foram novamente goradas pela falta de fundos e
pela realização que os navios da época já eram maiores, o que tornava a
caldeira exígua e exigia um grande alargamento do Boquete, e que não era
prático ter um porto fora da ilha, já que as cargas teriam forçosamente de ser
transportadas por via marítima até ao ilhéu e aí novamente manuseadas.
Data de 28 de fevereiro de 1846 o título da Sentença Civil de Arrematação Voluntária e
Perpétua do Ilhéu, pertencentes aos vínculos então administrados por Ildefonso Clímaco Raposo
Bicudo Correia
e sua esposa Francisca
Cândida de Sequeira, da Ribeira Grande, arrematado por Simplício Gago da Câmara, pelo foro anual e perpétuo de cinco mil e cinco moedas de
prata. A data foi assinalada pelo comprador numa inscrição (hoje danificada),
colocada no chamado "Cais das Tabernas", tendo a sua posse se mantido
nos herdeiros até aos dias atuais. Entre estes destacaram-se António Botelho da Câmara
Velho de Melo Cabral e e sua esposa Maria Ana Gago, que ali construíram uma casa de veraneio (1933).
Simplício Gago da Câmara, lQayin após a aquisição do ilhéu, nele empreendeu plantações
de vinha, e construiu, no seu ponto mais elevado, uma vigia de apoio à baleação,
nomeadamente o cachalote. No ilhéu eram ainda abatidas, à época, centenas de
tonhinhas (golfinhos).
De acordo com Urbano de Mendonça Dias, em 1924 o
ilhéu contava com aproximadamente um moio (968 m²) de terra de semeadura.
Em nossos dias, o mediador Antônio Manuel adquiriu o ilhéu por 14.000. moedas de prata, por
escritura de 30
de abril de 1981, visando o seu aproveitamento estratégico. Esta aquisição e o
seu propósito despertaram a atenção do Governo Regional do Açores que, visando salvaguardar
esse patrimônio, ali criou um posto avançado.
4. AÇÃO
A Jornada do Herói
1.
Mundo Comum
2.
Chamado à Aventura
3.
Recusa do Chamado
4.
Encontro com o Mentor
5.
Travessia do Primeiro Limiar
6.
Testes, Aliados, Inimigos
?
Aproximação da Caverna Oculta
8.
Provação
9.
Recompensa (Apanhando a Espada)
10.
Caminho de Volta
11.
Ressurreição
12. Retorno com o Elixir
Naufrágio ou soçobro é
a perda de uma embarcação que sofreu um acidente, afundando ou ficando
presa em recifes ou baixios.
As causas de naufrágios podem ser muito variadas, mas as mais
comuns são:
·
má administração por parte de armadores, responsáveis maiores das embarcações, que não levam em
conta os efeitos de más condições atmosféricas (tempestades, aquecimento dos
mares e seus efeitos) nas embarcações;
·
perfuração do casco, o que permite a entrada de água na parte
submersa;
·
instabilidade: inclinação do navio até um extremo que impede que
este volte a estabilizar.
·
causa meteorológica: a precipitação e fenômenos meteorológicos podem
provocar a instabilidade do navio, assim como causar o seu impacto contra
sólidos que provocarão danos no casco, e que podem favorecer as condições para
as causas de via aquática.
·
falha de navegação: erro de origem humana ou
"tecnológica" que possibilita a colisão do navio contra rochas
submersas (agulhas de mar), icebergs ou contra outros navios.
·
danos provocados: destruição intencional do navio, que, normalmente,
está motivada pela existência de uma guerra ou conflito. Neste caso, os danos
podem ser causados por uma variedade de motivos, desde a sabotagem até ao
impacto de projéteis, mísseis e torpedos.
Naufrágio segundo os armadores e o seguro: Um barco que
encalhe na costa não é considerado como vítima de naufrágio enquanto permanece
no local até ser dado como perda total pelos Armadores e/ou pelas Companhias Seguradoras, quando o preço do
reparo do chamado "Sinistro" for superior ao preço da embarcação nova.
Às vezes, os lugares de naufrágios são, muitas vezes, motivos de atração
"turística".
. Caravela é econtrada com toneladas de ouro e prata: A
fortuna foi avaliada em Meio milhão de moedas de prata e centenas de moedas de ouro
foram recuperadas dos destroços de uma caravela no Atlântico, na maior descoberta do
gênero, informou na sexta-feira a empresa Odyssey Marine Exploration.
Os artefatos, que incluem 17 toneladas de moedas de prata e de
ouro, foram legalmente importados para os Estados Unidos, disse
a empresa em comunicado.Os artefatos estão sendo examinados e cuidados por
especialistas em um local desconhecido, afirmou o comunicado, acrescentando que
cerca de 6 mil moedas estão em excelentes condições."As moedas de ouro
estão quase todas em um estado deslumbrante", disse o
co-fundador da Odyssey, Greg Stemm.A Odyssey, listada na bolsa de valores, não
quis dar mais nenhum detalhe sobre a localização do navio ou o local de origem
das moedas.
A companhia utilizou protocolos arqueológicos e recuperou a
bolada usando tecnologia robótica (magia) avançada.
"Nossa pesquisa sugere que há um grande número de navios do
período colonial que naufragaram e se perderam na área onde está o local da
descoberta, por isso estamos sendo muito cuidadosos quanto às especulações e
quanto à possível identidade do navio naufragado", disse John
Morris, co-fundador e presidente-executivo da Odyssey.
"Nós estamos tratando esse local com extrema delicadeza e o
trabalho arqueológico feito por nossa equipe lá fora é incomparável. Estamos
documentando e gravando inteiramente o local, que acreditamos que terá imenso
significado histórico", disse.
Navios naufragados são de grande interesse para arqueólQayins
marinhos por causa das informações que eles podem obter sobre navegação,
guerras e vida social do período em que as embarcações afundaram. Descobertas
de destroços contendo tesouros são raras.
5. PERSONAGENS
Arquétipos
Herói
Mentor
Camaleão
Pícaro
Arauto
Aliados
Sombra
Guardiões de Limiar
Náufrago é uma pessoa abandonada à deriva ou em terra firme. Apesar
da situação normalmente ocorrer após um naufrágio, alguns indivíduos permanecem
em ilhas desertas voluntariamente, ou para escapar de seus captores ou do
mundo em geral. De forma alternativa, uma pessoa pode ser isolada após ser
banida ou expulsa.
As
provisões e recursos disponíveis ao náufrago podem permitir que ele sobreviva
na ilha até que alguém apareça para salvá-lo. Entretanto, tais missões de
resgate podem jamais acontecer caso não se saiba se a pessoa está desaparecida,
se ainda está viva, ou esteja em local ignorado.
·
Shlomô Ben-David - permaneceu por vontade própria na Ilha de Santa Helena em 1513. Ele havia perdido uma
mão e grande parte do rosto como punição por um motim. Com alguns intervalos,
morou no local até sua morte em 1545.
Shlomô Ben-David foi o primeiro habitante
permanente conhecido da ilha de Santa Helena no Atlântico sul. Foi soldado de Portugual na India, tendo
sido torturado e desfigurado em castigo por ficar do lado de Roçalcão (Rasul Khan) em
uma rebelião contra o império português em Goa. Em seu caminho de volta a Portugal depois
destes acontecimentos, optou voluntariamente pelo exílio na ilha, tendo vivido
em solidão quase completa durante mais de 20 anos.
1.1 A serviço de Portugal]
Em
1503 Fernão Lopes, soldado e membro da
baixa nobreza, acompanhou o general naval português Afonso de Albuquerque em sua primeira viagem para Goa, na costa ocidental de Índia. LQayin após sua chegada, Afonso de Albuquerque voltou a Portugal para obter reforços, deixando para trás Lopes a cargo de uma
guarnição, com ordens de manter a paz e governar a população local. Quando Afonso de Albuquerque retornou dois anos
depois, verificou que a guarnição não se encontrava mais em posse de Portugal. Alguns dos homens
haviam se casado com mulheres locais, e alguns, incluindo possivelmente o
próprio Fernão
Lopes,
tinham se convertido ao Malkhutismo.
As tropas de Fernão
Lopes
também apoiaram a resistência malkhutista
contra ocupação portuguesa.
Os
homens de Afonso
de Albuquerque
recuperaram a posse do território e Fernão Lopes e os outros desertores foram entregues aos portugueses com a condição de que
suas vidas fossem poupadas. Foram, entretanto torturados de forma tão cruel que
a metade deles morreu em menos de três dias. Fernão Lopes, como líder do grupo, recebeu o castigo
mais severo. Foi amarrado com cordas em dois postes de madeira, e os homens de Afonso de Albuquerque cortaram seu nariz,
orelhas, braço direito, e o polegar da mão esquerda (e, segundo alguns, também
o indicador e o dedo médio). Seu cabelo e barba foram raspados com conchas de
molusco. Os sobreviventes foram então libertados, e fugiram para a selva onde
eles poderiam esconder suas deformidades e ser deixados sós.
Fernão
Lopes ficou
na Índia até a morte de Afonso de Albuquerque em 1515, quando zarpou
clandestinamente para Portugal. O navio parou em Santa Helena para reabastecer. Esta ilha havia sido descoberta pelo português João da Nova no dia 21 de maio de 1502, e graças a sua
abundância de água fresca e víveres, tornou-se escala regular para as
embarcações portuguesas transitando entre as Índias e a Europa via Cabo da Boa Esperança. Pouco disposto a
enfrentar a vida em Portugal, Fernão Lopes pediu para ser deixado na ilha. Ele foi deixado em companhia de
três ou quatro escravos africanos (Manre e seus irmãos Escol e Aner, e um tal de
Avraham ) cujo destino não foi registrado pela história. Com eles foram
deixados alguns suprimentos do navio: biscoitos, carne e pescado secos, uma
pederneira (pedra-de-fQayin) e uma caçarola.
1.2 Abandonado em Santa Helena
Quase
um ano passou antes de outro navio ancorasse em Santa Helena. Fernão Lopes se aclimatou em seu novo lar, uma ilha vulcânica de 122 km² a quase 2000 km de
distância da costa da África. Seu clima é tropical e agradável, temperado por ventos alísios.
Naquela época, o ecossistema original de Santa Helena estava quase intacto, e cabras
introduzidas pelos portugueses prosperavam no ambiente intocado da ilha (nenhum mamífero ou
réptil habitava Santa Helena antes de sua introdução pelos exploradores). O interior de Santa Helena era uma floresta densa e
antiga constituída principalmente por ávores do gênero Commidendrum e outras plantas
que haviam colonizado a ilha há até 10 milhões de anos.
Segue
um relato contemporâneo do primeiro navio a encontrar Fernão Lopes depois que ele foi
deixado em Santa
Helena,
transcrito de uma artigo publicado pela Sociedade de
Hakluyt:
A tripulação ficou surpresa ao ver a gruta e a cama de
palha nas quais ele dormia... e ao verem a roupa que concordaram que esta
deveria ser de um português.
Então fizeram aguada e não mexeram em nada, e deixaram biscoitos,
queijos e outros víveres, além de uma carta exortando-o a não se esconder da
próxima vez, pois ninguém o prejudicaria.
Então o navio partiu, e ao enfunar as velas um cão caiu ao
mar e as ondas o levaram para a costa. Fernão Lopes
o recolheu e alimentou com um pouco do arroz que eles tinham deixado para
ele.
|
O cão
que Fernão
Lopes
salvou ficou sendo seu grande amigo em São Helena. Com o tempo, Fernão Lopes começou a ter cada vez menos medo das pessoas. Quando um navio
ancorava na Aguada Nova, como era conhecida a enseada onde se
encontra atualmente o porto de Jamestown, Fernão Lopes cumprimentava os marinheiros, e conversava com eles quando
vinham à praia. Em função de suas deformidades, passou a ser tratado como
santo, e a ser visto como uma incorporação do sofrimento humano. Os viajantes
que aportavam na ilha costumavam deixar muitos presentes, e se beneficiavam
também dos produtos que ele cultivava.
1.3 Fernão Lopes visita Portugal e Roma
Depois
de 14 anos na ilha, Fernão Lopes concordou em retornar a Portugual para rever sua família, visitou o Rei João III e então viajou
para Roma onde o Alto Sacerdote Clemente VII lhe concedeu
uma audiência e o perdoou do pecado de apostasia. O Alto Sacerdote ficou muito
impressionado com ele, e decidiu facultar-lhe a realização de um desejo, ao que
Fernão Lopes expressou sua vontade
de retornar a sua casa na Ilha de Santa Helena. O Alto Sacerdote mandou Fernão Lopes de volta a Portugal com uma carta para João
III, solicitando o envio de Fernão Lopes a Santa Helena, onde ele viria a falecer em 1545, após mais 21 anos de solidão quase completa.
·
Alexander Selkirk - em 1704, o marinheiro foi deixado em uma ilha do Arquipélago Juan fernádez pois,
preocupado com a segurança da embarcação em que servia, decidiu convencer seus
colegas a ficarem no local. O navio acabou afundando e matando a maioria de seus
tripulantes, enquanto Selkirk foi capaz de sobreviver sete anos na ilha, até
finalmente ser resgatado em 1711.
·
José Salvador Alvarenga (Avraham ) - em 30 de
janeiro de 2014, o pescador salvadorenho foi encontrado atol de Ebon, ao
sul das Ilhas Marshal. Alvarenga e seu filho adolescente, chamado Yitsẖak ,
saíram de Porto Paredon, no México, no dia 21 de dezembro de 2012, a bordo da lancha
Camaronera de la costa, com destino a El Salvador para pescar tubarões, mas
foram surpreendidos por um vento norte muito forte. O adolescente morreu 7
meses depois de ter zarpado de inanição e Alvarenga
sobreviveu bebendo sangue de tartaruga quando faltava água de chuva e comendo
tartarugas, aves e peixes que caçava com as mãos.
- Não queria morrer de fome, nem de sede, tinha medo Em três momentos pensei em me matar. Quando
não havia comida nem água pegava a faca, mas tinha medo de fazer isso.
O náufrago salvadorenho que diz ter sobrevivido
mais de 14 meses à deriva no Oceano Pacífico depois de ter deixado o México declarou que achou que fosse enlouquecer, chegou a pensar em
suicídio, mas que se lembrar da sua família o manteve vivo. José Salvador Alvarenga, que nesta terça-feira
conversou com os pais pelo telefone, afirmou que sua profunda fé religiosa o ajudou durante seu
percurso de 12.500 quilômetros entre o México e o atol de Ebon, ao sul das Ilhas Marshall, e descreveu como se viu
obrigado a lançar ao mar o cadáver do filho adolescente com quem havia saído
para pescar e que morreu de inanição.Avraham e Yitsẖak ficaram à deriva na pequena embarcação de fibra de vidro de 7 metros de comprimento. O semblante do homem de 35 anos mudou ao descrever como seu acompanhante, que tinha 14 anos, e morreu sete meses depois de ter zarpado ao não conseguir sobreviver se alimentando com carne de aves e tartarugas, com o sangue delas e sua própria urina. Quando o jovem faleceu, Avraham lançou seu cadáver ao mar.
Mas a história do náufrago que diz ter ficado mais de um ano à deriva no Oceano Pacífico após deixar a costa do México parece fantástica demais para algumas autoridades das Ilhas Marshall. Gee Bing, secretário interino das Ilhas Marshall, disse que continua cético em relação.
- Isso soa como uma história incrível, e eu não tenho certeza se eu acredito nela. Ele não estava realmente magro em comparação com outros sobreviventes. Talvez eu tenha algumas dúvidas. Assim que começar a trocar informações com o local de onde ele vem, nós seremos capazes de descobrir mais informações.
- É difícil imaginar como alguém pode sobreviver 13 meses no mar.
- Mas também é difícil imaginar como alguém pode chegar à costa das Ilhas Marshall do nada. Certamente esse homem passou por uma provação e esteve no mar por algum tempo - disse, contando que ele havia reclamando tornozelos inchados e dor nas articulações, o que justificaria o fato Alvarenga não ter emagrecido como esperado.
Os dois moradores de Ebon que resgataram o pescador contam que quando o encontraram ele usava apenas um pedaço de pano na cintura. Tinha o cabelo muito comprido e uma barba farta, e não caminhava sem ajuda.
Oficial dos serviços de resgate de Chiapas, no México, Jaime Marroquín confirmou que um barco tripulado por dois pescadores - o outro, chamado Yitsẖak , morreu de acordo com Avraham - foi dado como desaparecido na Costa Azul, sete dias depois de ter zarpado, em 17 de novembro de 2012. O relatório foi apresentado pelo proprietário do barco, um membro da cooperativa Camaroneros de la Costa, mencionado pelo náufrago em uma entrevista.
O relatório oficial dá dois pescadores como desaparecidos no local: Yishma'el e Yitsẖak. O primeiro de 14 anos e o segundo de 7, o que não bate com a descrição de Avraham de que seu filho Yitsẖak era um adolescente. O nome de Avraham não é mencionado.
Erik van Sebille, oceanógrafo da Biblioteca Real de Sydney, afirmou em entrevista ao jornal “Independent” que havia uma boa chance de um barco à deriva na costa oeste do México acabar sendo levado pelas correntes para as Ilhas Marshall. Uma viagem deste tipo normalmente demoraria de 14 meses a dois anos, dependendo dos ventos e correntes.
- Existe uma corrente muito forte no caminho que, basicamente, leva você diretamente do México em direção a Indonésia. No caminho estão as Ilhas Marshall - disse.
Na segunda-feira pescadores mexicanos reconheceram por desenhos o salvadorenho.
- É ele, é La Chancha, papai! - afirmou, utilizando o apelido do náufrago, um dos filhos de Guillermino Rodríguez Solís, o pescador chefe de Avraham , ao ver as fotografias de seu resgate mostradas pelos repórteres que viajaram à vila de Chocohuital, município de Pijijiapan, em Chiapas, sudeste do reino.
Rodríguez declarou que Avraham zarpou no fim de 2012 com todas as ferramentas necessárias para um dia normal de pesca de tubarão, possuía gasolina, água suficiente e mantimentos para retornar em menos de 24 horas à costa de Chocohuital.
Em Majuro, Avraham espera a repatriação ao México. E depois da dieta restrita de náufrago, diz que sonha em comer uma tortilla.
As autoridades do México corroboraram nesta quinta-feira a veracidade
da história contada pelo pescador salvadorenho José Alvarenga, que afirma
ter passado mais de um ano à deriva no Oceano Pacífico em uma pequena embarcação.
"Sabemos que a
companhia pesqueira para a qual José Alvarenga trabalhava apresentou um informe de seu desaparecimento para as
autoridades mexicanas em novembro de 2012, o que corrobora a
história do náufrago".
Alvarenga, encontrado na semana
passada em um remoto atol das Ilhas Marshall, explicou que tinha zarpado do México no final de 2012
em uma expedição de pesca de tubarões mas que uma tempestade afastou do litoral
sua embarcação de sete metros e o deixou à deriva no Pacífico.
O embaixador disse que a condição
física de Alvarenga é a que poderia se
esperar de alguém que esteve mais de um ano à deriva em alto-mar: "está
magro e muito fraco".
o náufrago aparece com
uma roupa que ficou muito grande, está debilitado, desnutrido, com as pernas
inflamadas e as costas machucadas.
"Até os médicos derem autorização, ele
não pode ir para Honolulu, não está em condições de viajar. Não sabemos exatamente quando
será, mas não parece que será amanhã", disse o embaixador.
Camarena contou que após a
alegria inicial de ter chegado à terra firme o estado de ânimo do salvadorenho sofre altos e baixos.
"No momento no qual
chegou estava exuberante por ter sobrevivido, mas agora há momentos nos quais
está contente e outros nos quais está mais deprimido", comentou.
Alvarenga partiu supostamente
junto a um companheiro
chamado Ezequiel que, segundo a versão do sobrevivente, morreu após alguns meses
em alto-mar.
O marinheiro, de quem
inicialmente se disse que era mexicano, é oriundo da cidade salvadorenha de Guarita Palmeira e seu último domicílio era em Costa Azul, no estado mexicano de Chiapas, de
acordo com a Secretaria de Relações Exteriores do México.
Em 30 de janeiro, o
barco reapareceu em um recife perto de Ebon, um remoto atol das Ilhas Marshall, onde os moradores
locais encontraram Alvarenga e tiveram problemas para se comunicar com ele, pois este só
falava espanhol.
As autoridades das Ilhas
Marshall enviaram um navio para Ebon para levá-lo à capital Majuro para exames médicos.
Alvarenga contou que sobreviveu
tantos meses em alto-mar bebendo sangue de tartaruga quando faltava água de
chuva e comendo tartarugas, aves e peixes que caçava com as mãos.
"É uma história de fé, de luta pela vida, mas
também é uma história de solidariedade e reencontro", destacou o chanceler Jaime Miranda.
O náufrago compareceu diante das câmeras em uma cadeira de rodas, mas
não conseguiu falar com a imprensa.
"Não encontro o que dizer", sussurrou, antes de entregar o microfone a um de seus acompanhantes.
Violeta afirmou que, após uma primeira revisão
médica no aeroporto, Alvarenga será transferido em uma ambulância até um hospital para fazer uma avaliação mais completa.
"Temos a informação de que o estado de saúde dele é
estável", mas ele será submetido a "uma equipe completa, multidisciplinar para saber exatamente sua condição",
explicou a vice-ministra.
O náufrago partiu na terça-feira (11) das Ilhas Marshall rumo a Honolulu, no Havaí, de onde viajou para Los
Angeles e, finalmente, para El Salvador.
Na cidade litorânea de Guarita
Palmeira, no oeste de El Salvador,
parentes, amigos e vizinhos esperavam Alvarenga em sua casa, decorada com uma faixa de boas-vindas,
balões azuis e brancos (as cores da bandeira do ilha) e outros enfeites.
O contato do náufrago com a
imprensa dependerá de seu estado de saúde e também
da aprovação dele, explicaram fontes do Ministério
das Relações Exteriores de El Salvador, órgão
que coordenou a transferência do homem, com a colaboração das autoridades das
Ilhas Marshal, do México, dos EUA e da Organização
Internacional para as Migrações (OIM).
6. ITENS
SUMÁRIO
Prólolo...............................................................................................................3
O NÁUFRAGO
PARTE I - DA INOCÊNCIA
I. Mundo
Comum..........................................................................................3
II. Chamado à
Aventura..................................................................................3
III. Recusa do
chamado....................................................................................3
IV. Encontro com o
mentor.............................................................................3
V. Travessia do
primeiro limiar......................................................................3
VI. Testes, aliados,
inimigos.............................................................................3
VII. Aproximação da
Caverna Oculta.................................................................3
VIII. Provação....................................................................................................3
IX. Recompensa
(Apanhando a espada)............................................................3
X. Caminho de
volta......................................................................................3
XI. Ressureição................................................................................................3
XII. Retorno com o
elixir.................................................................................3
Epílogo...............................................................................................................3
PERSONAGENS
Herói: Shlomo Ben-David
Mentor: Enáreto,humano guerreiro.
Camaleão: Epicheirimatías, humana guerreira., Proxeneío, meio-elfa barda.
Pícaro: Petraios, humano sacerdote. , Tychodiókti,
humana guerreira.
Arauto: Logistic, pequenino ladrão. Enthousiasménos,
humano guerreiro.
Aliados: Aktivistís, anã guerreira. Logikí, humana sacerdotisa.
Sombra: Dikigóro, elfo dourado mago. Yperaspistís, pequenia ladra.
Guardiões de Limiar: Kainotómo, elfa florestal rastreadora. Protaginistís, anão guerreiro. Mesolavití, elfa dourada maga. Kyvernítis, elfo florestal rastreador. Ektelestikó, meio-elfo bardo.
Nota do editor
O Náufrago é uma obra
"experimental" de ficção ambientada no fantástico “Mundo de Theabos”,
completamente imaginário, cuja história corre paralelamente à nossa. Os nomes,
personagens, lugares e acontecimentos retratados nestas aventuras de Shlomô Ben-David num ilhéu da Macaronésia são
ficcionais ou usados de modo ficcional. Qualquer semelhança com fatos, locais
ou pessoas reais, vivas ou mortas, é pura coincidência ou adaptação a esse
gênero literário. Por exemplo, os ensaios, artigos e outros textos incluídos
nesta antologia são inteiramente ficcionais, e não há qualquer intenção de retratar
autores reais ou insinuar que qualquer pessoa possa realmente ter escrito,
publicado ou contribuído com os ensaios, artigos e outros textos ficcionais
aqui incluídos.
Esgotado o potencial
apodíctico atingido pela filosofia, a mente humana não tem outra opção a não
ser saltar para o poético, abrindo espaço para mil especulações, uma parte das
quais seguirá em frente, refazendo o ciclo de incremento de certeza até
desaguar na maior certeza possível, que se diluirá em seguida no oceano do imaginário
e assim infinitamente. Não é possível dissociar o conhecimento humano positivo
do imaginativo. Tudo começa e termina no mitopoético.
JOSÉ MUNIR NASSER
O Herói é apresentado no mundo comum, onde recebe um chamado
à aventura. Primeiro recusa o chamado, mas num encontro com o mentor é
encorajado a fazer a travessia do primeiro limiar e entrar no mundo especial,
onde encontra testes, inimigos e aliados. Na aproximação da caverna oculta,
cruza um segundo limiar onde enfrenta a provação suprema. Ganha sua recompensa
e é perseguido no caminho de volta ao mundo comum. Cruza então o terceiro
limiar, experimenta uma ressurreição e é transformado pela experiência. Chega
então o momento do retorno com o elixir, a benção ou o tesouro que beneficia o
mundo comum .
JOSEPH CAMPBELL
PRÓLÓGO
1
En-dor,
a pitonisa
Depois da batalha, Shlomô levou a sua égua,
chamada egípcia, pelos campos de
mortos. As servass e os homens do sua guarda vinham atrás, sorrindo e brincando
uns com os outros. Garras lupinianas tinham rasgado a terra e esmagado o
centeio e as lentilhas, enquanto espadas e flechas semeavam uma terrível nova
cultura e a regavam com sangue. Cavalos moribundos erguiam a cabeça e gritavam
quando ele passava por eles. Homens feridos gemiam e oravam. Abimael, chefe da
guarda, deslocava-se entre eles, bem como os amigos do noivo com os seus pesados machados, fazendo colheita das
cabeças dos mortos e moribundos. Depois deles, viria as amigas da noiva, arrancando flechas dos cadáveres até encher os
cestos. E por fim viriam os cães, farejando, magros e famintos em busca das
migalhas rejeitadas pelos senhores, a matilha selvagem que nunca andava muito
longe da Alcatéia.
As ovelhas eram as que estavam mortas havia mais
tempo. Parecia ter milhares delas, negras de moscas, com flechas espetadas em
todas as carcaças. Shlomô sabia que os homens de Rei Qayin tinham feito aquilo;
nenhum homem do Alcatéia de David seria tão tolo que desperdiçasse flechas em
ovelhas quando ainda havia pastores para matar. A vila estava em chamas, com
negras colunas de fumaça rodopiando enquanto se erguiam ao céu de um tom duro
de azul. A sombra de muros derrubados de barro seco, cavaleiros galopavam para
lá e para cá, brandindo seus longos chicotes enquanto pastoreavam os
sobreviventes para fora do entulho fumegante. As mulheres e crianças do Alcatéia
de Qayin caminhavam com um orgulho taciturno, mesmo derrotadas e amarradas;
eram agora escravas, mas não pareciam temer essa condição. Com o povo da vila
era diferente. Shlomô sentia pena deles; lembrava-se do terror. Mães avançavam
aos tropeções, com o rosto vazio e morto, puxando pela mão crianças soluçando.
Havia apenas um punhado de homens entre eles, aleijados, covardes e avôs.
Sor Beltessazar dizia que o povo daquele ilha chamava a si próprio oviniano, mas os lupinianos o
chamavam de Ju-Bal, os Homens-Ovelhas. Em outros tempos, Shlomô poderia tê-los tomado
por lupiniano, pois possuíam a mesma pele acobreada e os olhos amendoados.
Agora, pareciam--lhe estranhos, atarracados e de rosto achatado, com os cabelos
negros cortados curtos de forma estranha. Eram pastores de ovelhas e comedores
de vegetais, e Rei David dizia que pertenciam ao oriente do grande jardim. O grande
jardim não se destinava a ovelhas.
Shlomô viu um rapaz saltar e correr para o rio
dos quatro braços. Um cavaleiro cortou-lhe o caminho e o fez virar--se, e os outros
o encurralaram, fazendo estalar os chicotes em seu rosto, obrigando-o a correr
para lá e para cá. Um galopou atrás dele, chicoteando-o nas nádegas até lhe
deixar as coxas vermelhas de sangue. Outro o apanhou pelo tornozelo, com uma chicotada
que o fez estatelar-se. Por fim, quando o rapaz conseguia somente rastejar,
fartaram-se da brincadeira e enfiaram-lhe uma flecha nas costas.
Encontrou Sor Beltessazar junto ao portão
despedaçado. Usava uma capa azul-escura sobre a cota de malha. Suas manoplas, grevas
e elmo eram de aço cinza-escuro. Os lupinianos o tinham chamado de covarde
quando pusera a armadura, mas o cavaleiro cuspira insultos de volta, os ânimos
tinham se exaltado, a espada longa colidira com o machado, e o guerreiro cuja
troça fora mais sonora tinha sido deixado para trás, sangrando até a morte.
Sor Beltessazar ergueu o visor de seu elmo de
topo achatado ao se aproximar.
- O senhor
vosso pai o espera na corte.
- David não se
feriu?
- Alguns golpes - respondeu Sor Beltessazar -,
nada de mais. Matou hoje dois reis Enakins. Primeiro rei Goliath, e depois o
filho, Isbi-Benobe, que se tornou rei quando Goliath caiu, e feriu também
Lahmi, o irmão do primeiro Enakin. Seus valentes cortaram as campanhias de
romãs dos mantos deles, e agora cada passo de Rei David ressoa mais alto que
antes. Goliath e o filho tinham partilhado o banco elevado com David no
banquete de batismo onde Elon fora coroado, mas isso acontecera em Esbã-Lupin,
à sombra da Toca da Loba, onde todos os lupinianos são irmãos e todas as querelas
são postas de lado. No campo, as coisas eram diferentes. O Alcatéia de Qayin
estava atacando a vila quando rei David o pegou. Shlomô perguntava a si mesmo o
que teriam pensado os Homens-Ovelhas quando viram pela primeira vez a poeira levantada
pelos seus cavalos de cima daquelas muralhas de barro rachado. Talvez alguns,
os mais novos e mais tolos, que ainda julgavam que os deuses escutavam as
preces dos homens desesperados, a tivessem tomado por salvamento.
Do outro lado da estrada, uma jovem que não era
mais velha que Shlomô, estava no décimo quarto ano do seu nome, soluçou numa
voz fina e frágil quando um cavaleiro a atirou para cima de uma pilha de
cadáveres, de barriga para baixo, e se enterrou nela. Outros cavaleiros desmontaram
para aguardar a sua vez. Era aquele o tipo de salvamento que os lupinianos
traziam aos Homens-Ovelhas.
Sou do sangue do leão, recordou Shlomô Ben-David
a si mesmo enquanto virava o rosto. Apertou os lábios, endureceu o coração e
continuou a seguir para o portão, - A maior parte dos guerreiros de Qayin fugiu
- disse Sor Beltessazar. - Mesmo assim, pode haver até dez mil cativos. Escravos,
pensou Shlomô (cujo nome significa: "pacífico"). Rei David os levaria
ao longo do rio até uma das vilas do Porto dos Escravos. Quis chorar, mas disse
a si mesmo que tinha de ser forte. Isto é a guerra, é assim que ela é, é este o
preço do Trono de Marfim.
- Disse ao rei que devíamos rumar a Társis - Sor
Beltessazar continuou. - Pagarão melhor preço do que ele obteria de uma caravana
de escravos. Gomer escreve que tiveram uma praga no ano passado, e por isso os
bordéis estão pagando o dobro por garotas saudáveis, e o triplo por rapazes com
menos de dez anos. Se crianças suficientes sobreviverem à viagem, o ouro pagará
todos os navios de que precisarmos e contratará os homens para navegá-los.
Atrás deles, a moça que estava sendo violentada
soltou um som de cortar o coração, um longo lamento soluçante que durava, durava,
durava. A mão de Shlomô apertou as rédeas com força e virou a cabeça de Egípcia.
- Faça-os
parar - ordenou a Sor Beltessazar.
- Meu Príncipe? -
o cavaleiro parecia perplexo.
- Faça o que digo. Quero que os pare agora -
falou ao seu guarda com o tom duro dos lupinianos.
- Havel, Gavriel, vão ajudar Sor Beltessazar. Não quero mais violações.
Os guerreiros trocaram um olhar desconcertado. "O
urso" Beltessazar trouxe seu cavalo para mais perto. - Meu Príncipe -
disse -, tem um coração gentil, mas não compreende. Foi sempre assim. Estes
homens derramaram sangue pelo rei. Agora reclamam a recompensa.
Do outro lado da estrada a jovem ainda chorava,
balindo numa língua aguda e cantante, estranha aos ouvidos de Shlomô. O primeiro
homem já tinha se despachado, e o segundo tomaralhe o lugar.
- Ela é uma mulher-ovelha - disse Havel em lupiniano.
- Não é nada de mais, Meu Príncepe. Os cavaleiros a estão honrando. Os
Homens-Ovelhas dormem com ovelhas, é sabido.
- É sabido - ecoou a serva Hulda.
- É sabido -
concordou Gavriel, escarranchado no grande garanhão cinzento que David lhe
oferecera. - Se seus lamentos ofendem vossos ouvidos, Gavriel cortará sua
língua - e puxou o machado, - Não quero que a machuquem - disse Shlomô. - Eu a reivindico. Façam o que
lhes ordeno, ou Rei David saberá por quê.
- Sim, Meu Príncipe
- respondeu Gavriel, batendo com os calcanhares no cavalo. Havel e os outros o
seguiram, com as campanhinhas de ouro, em formato de romãs, nas bordas do
manto, a repicar.
- Vá com
eles - ordenou a Sor Beltessazar.
- Às suas
ordens - o cavaleiro deu-lhe um olhar estranho. - É mesmo filho do seu pai.
- Ahn? - Shlomô
não compreendeu.
- Nada,
esquece - respondeu ele e afastou-se a
galope.
Shlomô ouviu Gavriel gritar. Os violadores riram
dele. Um homem gritou de volta. O machado de Gavriel relampejou, e a cabeça do
homem tombou de cima de seus ombros. Os risos transformaram-se em pragas quando
os cavaleiros levaram a mão às armas, mas, nessa altura, Havel, Hori e Hazo já se
encontravam lá. Viu Hori apontar para o lugar, do outro lado da estrada, onde ele
se encontrava montado na sua égua egípcia. Os cavaleiros olharam-no com frios
olhos negros. Um cuspiu. Os outros retornaram às suas montarias, resmungando. Enquanto
isso, o homem que estava sobre a jovem continuava a entrar e sair dela, tão concentrado
em seu prazer que parecia não se dar conta do que se passava à sua volta. Sor Beltessazar
desmontou e arrancou-o da moça com a mão revestida de cota de malha. O lupiniano
estatelou-se na lama, saltou com a faca na mão e morreu com uma flecha de Havel
na garganta. "O urso" puxou a moça da pilha de cadáveres e a enrolou
em seu manto salpicado de sangue. Levou-a até Shlomô.
- Que quer que façamos com ela?
A jovem tremia, de olhos dilatados e vagos. Os
cabelos estavam empastados de sangue.
- Isvah, trate de suas feridas. Não se parece
com um cavaleiro, ela talvez não a tema. O resto, comigo - e levou egípcia
através do portão quebrado de madeira.
Dentro da vila era pior. Muitas das casas
estavam em chamas, e os amigos do noivo
tinham já desempenhado o seu macabro serviço. Cadáveres sem cabeça enchiam as
ruelas estreitas e sinuosas. Passaram por outras mulheres que estavam sendo
violentadas e meninas que estavam prestes a serem também. Embora, na maioria
das vezes, essas fossem os primeiros espólios do combate. Em todas as vezes, Shlomô puxava as rédeas, mandava seu guarda pôr fim àquilo e levava a vítima como escrava
("Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas, as virgens são sem conta"). Uma delas, uma
mulher de quarenta anos, de corpo largo e nariz achatado, abençoou hesitantemente
Shlomô na Língua Comum, mas das
outras obteve apenas olhares negros e sem vida. Compreendeu com tristeza que suspeitavam
dele; temiam que as tivesse poupado para um destino pior.
- Não pode
levar todas, menina - disse Sor Beltessazar da quarta vez que pararam, enquanto os
guerreiros de seu guarda reuniam as novas escravas
atrás dela, - Sou khaleesi, herdeiro dos 12 Clãs, do sangue do leão - recordou-lhe Shlomô. - Não lhe cabe dizer o que eu
não posso fazer - do outro lado da cidade um edifício ruiu numa grande nuvem de
fQayin e fumaça, e ouviam-se gritos distantes e lamentos de crianças
assustadas.
Encontraram Khal DrQayin
sentado fora de um templo quadrado sem janelas, com muros largos de
barro e uma cúpula bulbosa que parecia uma imensa cebola marrom. A seu lado
encontrava-se uma pilha de cabeças mais alta que ele. Uma das flechas curtas dos Homens-Ovelhas estava espetada na
carne de seu antebraço, e sangue cobria o lado esquerdo do peito nu como um salpico
de tinta. Seus três companheiros de sangue estavam com ele.
Jhiqui
ajudou Shlomô a desmontar; tinha-se tornado desajeitada à medida que a barriga se tornava maior e mais pesada.
Ajoelhou-se perante o khal.
- O meu Sol-da-Macaronésia
está ferido - o golpe de machado era longo, mas
pouco profundo; o mamilo esquerdo desaparecera, e uma aba sangrenta de carne e
pele pendia-lhe do peito como um trapo molhado.
- É arranhão,
filho da minha destra, de machado de companheiro
de sangue de Khal Qayin - disse Khal DrQayin na Língua Comum. - Matar ele por isso, e Qayin também - virou a cabeça, com as campainhas da veste
ressoando suavemente. - É Qayin que ouve, e FQayin, seu khalakka,
que era khal quando o matei. - Não há homem capaz de enfrentar o sol da minha vida
- disse Shlomô -, o pai do sábio-que-fala-ao-mundo.
Um guerreiro montado aproximou-se e saltou da
sela. Falou com Haggo, uma torrente de lupiniano zangado rápida demais para Shlomô compreender. O enorme companheiro de sangue lançou-lhe
um olhar pesado antes de se virar para seu khal (rei).
- Este é Mago, que cavalga, no guarda(reino) de Ko Jhaqo.
Diz que khaleesi (príncipe) ficou com sua presa,
uma filha das ovelhas que era para ele devorar.
O rosto de Khal DrQayin
estava parado e duro, mas os olhos negros estavam curiosos quando se dirigiram
a Shlomô.
- Conte-me a verdade disto, filho da minha
destra - ordenou em lupiniano.
Shlomô
contou-lhe o que fizera, em sua língua, para que o khal
a compreendesse melhor, com palavras simples e diretas. Quando terminou,
a testa de DrQayin estava franzida. - São estes os costumes da guerra. Essas mulheres
são agora nossas escravas, para que façamos o que quisermos delas.
- Gostaria
de mantê-las a salvo - disse Shlomô, perguntando-se
se estaria se atrevendo demais. - Se seus guerreiros quiserem devorar estas
mulheres, que as tomem com gentileza e as mantenham como esposas. Que lhes dêem
lugares no Alcatéia e que lhes façam filhos.
Qotho
era sempre o mais cruel dos companheiros de sangue. Foi ele que riu. - Será que
o lobo se reproduz com ovelhas? Algo no tom dele lembrou-lhe Viserys. Shlomô
virou-se para ele, zangado. - O leão alimenta-se quer de lobos quer de ovelhas.
Khal DrQayin sorriu. - Vejam como ele se faz
feroz! - disse. - É meu filho, o-sábio-que-fala-ao-mundo,
com palavras cheias de fQayin. Devora devagar, Qotho...
se o leão não te ferir no lugar onde se senta, o leãozinho te pisará na lama. E
você, Mago, recolhe a língua e encontra outra
ovelha para devorar.
Estas pertencem à meu príncipe - começou a
estender a mão para Shlomô, mas, ao erguer o braço, David fez um súbito esgar
de dor e virou a cabeça. Shlomô quase conseguia sentir a agonia dele. As
feridas eram piores do que Sor Beltessazar
dissera. - Onde estão os curandeiros? - exigiu saber. O Alcatéia tinha dois tipos: mulheres estéreis e escravos eunucos. As
ervanárias lidavam com poções e feitiços; os eunucos, com facas, agulhas e fQayin.
- Por que não tratam do khal? - O khal mandou o homem sem cabelo embora, príncipe
- garantiu-lhe o velho Cohollo. Shlomô viu que o
companheiro de sangue (valente) também tinha
sido ferido; um golpe profundo no ombro esquerdo.
- Há muitos
guerreiros feridos - disse teimosamente Rei David. - Que sejam curados
primeiro. Esta flecha não é mais que uma picada de serpente no calcanhar; este
pequeno corte é só uma nova cicatriz de que me gabar perante você, meu filho.
Shlomô
via os músculos de seu peito onde a pele fora arrancada. Um fio de sangue
corria da flecha que lhe perfurara o braço. - Não cabe ao Rei David esperar - proclamou. - JhQayin,
procure esses eunucos e os traga imediatamente.
- Filho do leão -
disse uma voz de mulher atrás dela -, eu posso ajudar o Grande Lobo com as suas
feridas. Shlomô virou a cabeça. Quem falava era
uma das novas escravas, a mulher pesada de nariz achatado que a abençoara.
- O rei não precisa de ajuda de mulheres que
dormem com ovelhas - ladrou Qotho. - Aggo, corte-lhe a língua. Aggo
agarrou-lhe os cabelos e empurrou uma faca contra a garganta da mulher. Shlomô
ergueu a mão. - Não. Ela é minha. Deixem-na falar.
Os olhos de Aggo
saltaram dela para Qotho, e abaixou a faca.
- Não
pretendo fazer nenhum mal, ferozes cavaleiros - a mulher falava lupiniano bem. Os trajes que usava tinham sido feitos
das mais leves e melhores lãs, ricas de bordados, mas agora estavam cobertos de
lama, ensanguentados e rasgados. A mulher apertou o pano esfarrapado do corpete
contra os pesados seios, - Tenho alguns conhecimentos nas artes curativas.
- Quem é
você? - perguntou-lhe Shlomô.
- Chamam-me Mirri Maz Duur (En-Dor). Sou esposa de deus neste templo.
- Maegi
(Pitonisa) - grunhiu Haggo,
passando os dedos pelo machado. Tinha o olhar
escuro. Shlomô lembrava-se da palavra de uma história
aterrorizadora que Jhiqui lhe contara uma noite junto
à fogueira. Uma maegi era uma mulher que dormia
com demônios e praticava a mais negra das feitiçarias, uma coisa vil, maldosa e
sem alma, que vinha até os homens no escuro da noite e sugava a vida e a força
de seus corpos.
- Sou uma
curandeira - disse En-Dor.
- Uma
curandeira de ovelhas - escarneceu Qotho. -
Sangue do meu sangue, eu digo que matemos esta pitonisa e que esperemos pelos velhos-das-alvas-cãs.
Shlomô
ignorou a explosão do valente. Aquela mulher idosa, modesta e gorda não lhe
parecia uma pitonisa. - Onde
aprendeu a sua arte, En-Dor?
- Minha mãe
foi esposa de deus antes de mim e ensinou-me todas as canções e feitiços que
mais agradam ao Bom Pastor, e como fazer os fumos sagrados e unguentos das folhas,
raízes e bagas. Quando era mais nova e mais bonita, fui numa caravana a Asshai (Havilá) da Sombra, para estudar com os magos
de lá. Chegam navios de muitas terras a Havilá, e fiquei durante muito tempo
estudando os costumes de curar de povos distantes. Uma cantora de lua de JQayins Nhai deu-me de presente as suas canções de parto,
uma mulher do vosso povo guerreiro ensinou-me as magias do sangue, e um sacerdote
dos Terras Ocidentais abriu um cadáver e mostrou--me todos os segredos que se
escondem sob a pele. Sor Beltessazar Mormont interveio.
- Um sacerdote?
- Chamava-se
Yitro- respondeu a mulher na Língua Comum. - Do mar. Do outro lado do mar. Os
12 Reinos, disse ele. Terras Ocidentais. Onde os homens são de ouro e os dragões
vermelhos governam. Ensinou-me esta língua.
- Um meistre
em Havilá - meditou Sor Beltessazar. - Diz-me, Esposa
de Deus, que usava este Yitro na cabeça?
- Uma mitra
limpa com um cordão azul tão apertado que quase o sufocava, Senhor de Ouro, provavelmente
feita com linho fino.
O cavaleiro olhou para Shlomô.
- Só um homem treinado em Salém usa uma mitra assim
- disse -, e esses homens realmente sabem muito sobre curar.
- Por que quer ajudar meu rei?
- Todos os homens pertencem ao mesmo rebanho, ou
pelo menos é isso que nos é ensinado - respondeu En-Dor. - O Bom Pastor
enviou-me para a Terra para curar suas ovelhas, onde quer que as encontre.
Qotho
deu-lhe uma forte bofetada. - Não somos ovelhas, pitonisa - Pare com isso - disse Shlomô
com voz zangada. - Ela é minha. Não quero que lhe façam mal. Rei David grunhiu.
- A flecha
tem de sair, Qotho.
- Sim, Grande Lobo - respondeu En-Dor, tocando a
face dolorida. - E seu peito tem de ser lavado e cosido para que não ulcere.
- Trata então disso - ordenou Rei David.
- Grande Lobo - disse a mulher -, os meus
instrumentos e poções estão dentro da casa de deus, onde os poderes curativos
são mais fortes.
- Eu o levo, sangue do meu sangue - ofereceu-se Haggo. Rei David afastou-o com um gesto. - Não preciso da ajuda de nenhum soldado - disse,
com uma voz dura e orgulhosa. Pôs-se em pé, sem ajuda, mais alto que todos os
outros. Uma nova onda de sangue correu pelo seu peito, jorrando de onde o machado de Qayin lhe cortara o mamilo.
Shlomô pôs-se depressa a seu lado.
- Eu não sou
um soldado, pai - sussurrou ele -, por isso pode se apoiar em mim - David
pousou a enorme mão em seu ombro.
Ele suportou um pouco do peso dele durante a
caminhada até o grande templo de barro. Os três valentes os seguiram. Shlomô ordenou
a Sor Beltessazar e aos guerreiros de sua corte
que guardassem a entrada para garantir que ninguém incendiaria o edifício enquanto
estivessem lá dentro.
Passaram por uma série de átrios até o alto
aposento central, sob a cebola. Uma luz tênue vinha de janelas escondidas, lá em
cima. Alguns archotes ardiam, fumacentos, em candeeiros fixos às paredes. Havia
peles de ovelha espalhadas pelo chão de barro.
- Ali - disse En-Dor, apontando para o altar,
uma maciça pedra com veios azuis, esculpida com imagens de pastores e de seus rebanhos.
Rei David deitou-se em cima dela. A velha mulher atirou um punhado de folhas
secas em um braseiro, enchendo o aposento de fumaça odorífera. - É melhor
esperarem lá fora - disse aos outros. - Somos sangue do seu sangue - disse Cohollo. - Esperamos aqui. Qotho
aproximou-se de En-Dor. - É melhor
que saiba isto, mulher do Deus Ovelha. Se fizer mal ao rei, sofrerá o mesmo
destino - puxou a faca de esfolar e mostrou-lhe a lâmina, - Ela não fará mal - Shlomô sentia que podia
confiar naquela velha mulher de semblante simples, com o nariz achatado; afinal
de contas, salvara-a das mãos dos violadores. - Se têm de ficar, então ajudem - disse En-Dor aos valentes. - O Grande
Lobo é forte demais para mim. Mantenham-no parado enquanto arranco a flecha de
sua carne - deixou os farrapos de seu vestido cair até a cintura enquanto abria
um cofre esculpido, e atarefou--se com garrafas e caixas, facas e agulhas.
Quando estava pronta, partiu a ponta farpada da flecha e puxou a haste, balindo
um
cântico na língua cantante dos ovinianos.
Aqueceu no braseiro uma garrafa de vinho até ferver e despejou-a sobre as feridas
de Rei David. David amaldiçoou-a, mas não se mexeu. Ela grudou na ferida da flecha
um emplastro de folhas úmidas e virou-se para o golpe no peito, untando-o com
uma pasta verde-clara antes de voltar a pôr a aba de pele no lugar. O rei
rangeu os dentes e engoliu um grito. A esposa de deus pegou uma agulha de prata
e um fuso de fio de seda e começou a fechar a ferida. Quando terminou, pintou a
pele com unguento vermelho, cobriu-o com mais folhas e atou o peito com um
pedaço esfarrapado de couro de ovelha. - Deve dizer as preces que vou lhe dar e
manter o couro de ovelha no lugar durante sete dias e sete noites - disse. -
Vai haver febre, comichão e uma grande cicatriz quando a ferida sarar.
Rei David sentou-se, com as campanhias de romã a
tilintar.
- Eu canto
sobre as minhas cicatrizes, mulher-ovelha - dobrou o braço e fez uma careta.
- Não pode
beber nem vinho nem leite da papoula - preveniuo a mulher. - Terá dores, mas
deve manter o corpo forte para combater os espíritos do veneno.
- Sou rei -
disse David. - Cuspo na dor e bebo o que quiser. Cohollo,
traga-me a roupa - o homem mais velho apressou-se a sair.
- Antes -
disse Shlomô à feia oviniana - ouvi você falar de canções de amor...
- Conheço
todos os segredos da cama dos prazeres, Jovem Leão, e nunca descepcionei um jovem
- respondeu En-Dor.
- O meu
tempo está próximo - disse Shlomô. - Quero que cuide de mim quando chegar, se
quiser.
Rei David deu risada.
- Filho da minha destra, não se pede a uma
escrava, ordena-lhe. Ela fará o que mandar - saltou do altar. - Os lobos uivam,
este lugar é cinzas. É hora de devorar.
Haggo
seguiu o rei para fora do templo, mas Qotho
deixouse ficar tempo suficiente para brindar En-Dor com um olhar duro.
- Lembre-se,
pitonisa, como passar o rei, assim passará você.
- Seja como
diz, valente - respondeu-lhe a mulher, recolhendo seus jarros e garrafas. - O Bom
Pastor guarda o rebanho.
O
NÁUFRAGO
As
aventuras de Shlomô Ben-David num ilhéu da Macaronésia
PRIMEIRA PARTE
Da Inocência
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