Releituras & Reescritas
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PRÓLOGO
- Você costuma meditar a respeito de nossa mãe, Talfen? - Mismet perguntou.
- NÃO - Talfen respondeu sem vacilar.
Mismet Mesolavití e o príncipe Talfen Swiller estavam a bordo do "Novo Alvorecer", um navio pesado de classe encouraçado que nos dias atuais servia como nau-mor da frota de Brick Hindergrass, o recentemente eleito conselheiro-primaz do incipiente Novo Reino da Macaronésia. Encontravam-se numa cabine de reuniões próxima da ponte de comando da embarcação, na frente de uma ampla janela que revelava um pequeno ilhéu perto da grande ilha da montanha incandescente.
- Oh - Mismet falou. - Não sei como tocar no assunto, porém... pois bem, já se foram alguns meses desde que ela morreu e acredito que devemos falar sobre algumas coisas. Sei que você ainda está chateado por causa dela...
- ... Ter me torturado? -Talfen a interrompeu. - Torturado seu próprio filho! Ou estaria "chateado" por ela ter permanecido como mera expectadora, sem mexer um dedo arcano, enquanto o capitão Luth Ritter arrasava a ilha de Radella? Ou talvez por ela ter decepado a sua perna? Ou talvez por ela ter matado mais elfos do que poderíamos imaginar? Ele fez um gesto para o ilhéu e acrescentou:
- Você tem idéia de quantos bons marinheiros morreram em toda a Macaronésia por causa de "Kreel, a elfa negra"?
Mismet conhecia inúmeras coisas sobre os infelizes marujos aniquilados pela magia negra da mãe, contudo ficou em silêncio.
Enquanto Talfen observava o mar aberto, ele argumentou:
- Parece que, em todo lugar a que vamos, encontramos mais vítimas de Kreel, a feiticeira, mais e mais evidências de seus macabros serviços à "causa" imperial. - Ele sacudiu a cabeça. - Porque eu iria querer pensar naquela aberração sombria?
- Porque nossa mãe não foi unicamente Gastarg Kreel - Mismet falou - Ela também foi Cederin Mesolavití, uma "Maga". Eu já contei a você a respeito do que ocorreu no Farol da Escuridão em Ildroum, sobre como ela me salvou da imperatriz e...
- Como ela salvou você? - Talfen objetou - Mismet, se eu me recordo bem, Kreel entregou você à imperatriz. - Ele suspirou. - Irmanzinha, eu sei que você crê que Cederin Mesolavití regressou no fim, e se é assim que você prefere se lembrar dela, como uma mística heroína que usou seus poderes mágicos para derrotar a imperatriz, então isso é uma decisão sua. Mas você não pode esperar que eu faça a mesma coisa, menina ingênua, porque a minha mãe, a minha "verdadeira" mãe, era Neeza Swiller, a mulher que criou e que morreu em Radésia, graças ao Império.
- Perdoe, Talfen - Mismet falou. - Eu apenas pensei que...
- Você pensou errado, loirinha das orelhas pontudas - Talfen retorquiu. -Tenho coisas mais relevantes do que essas na minha cabeça. Caso não tenha tomado nota em seu "grimório", o Império não morreu com a imperatriz. Desconhecemos quantos Navios de Guerra ainda estão em operação. Capitão Raynard Brymam sitiou a capital Heldalel. Centenas de ilhéus e ilhotas carecem da nossa ajuda e você me vem com estórias de bruxas.
- Ele se afastou da janela - Agora, se me permite, eu tenho uma reunião de guerra para participar. Os marinheiros de alguns ilhéus macaronésios mais afastados, não é para menos, estão cautelosos com qualquer forasteiro, mas estou determinado a convencê-los de que aderir ao tratado do Novo Reino é a melhor defesa contra o Império. - Ele se virou e se dirigiu para a saída da cabine.
Sozinha, Mismet voltou a olhar para Radella. Ela visitara o ilhéu "desértico" antes. A não ser pelo pequeno vulcão, a criadora de peixes, lagostas e camarões, o achava muito semelhante a sua ilhas natal, Gellius.
Tanta coisa acontecera desde àquela noite chuvosa em que fugira de casa e partira, sem destino, do porto de Wilton, com Nizana Nirinath, a bordo do "Bruxa do Mar". Naquela época, seu maior desejo era se aventurar por outros reinos. Jamais imaginara que por acaso encontraria a mãe tida como morta, que descobriria que o príncipe Talfen era seu irmão ou que se converteria numa defensora do Tratado Revolucionário.
A despeito de suas conquistas e muitos bons aliados, Mismet sentia que algo estava faltando em sua vida , como se parte dela estivesse incompleta de alguma forma. O Império havia queimado quase todos os registros do Colégio de Magia Antiga, incluindo qualquer informação sobre Cederin Mesolavití, deixando Mismet com tantas questões sobre seus lugar no mundo...
Será mesmo que todas as outras Magas se foram?
Como posso ser uma boa Maga quando sei tão pouco sobre elas?
Será que posso evitar os erros da minha mãe? Ou será que estou fadada a repetí-los, um-a-um?
Ainda que Talfen não apresentasse o menor sinal de interesse, Mismet sentia que era relevante descobrir mais coisas sobre a vida de Cederin Mesolavití.
Como posso me conhecer se eu nunca realmente conheci minha mãe?
A elfa dourada não sabia se esse conhecimento lhe traria mais sabedoria ou satisfação. Tudo que sabia era que ainda se sentia sozinha e deslocada, do mesmo modo que se sentia quando era uma pequena garotinha, crescendo numa desolada "fazenda" de peixes, lagostas e camarões na vastidão oceânica de Gellius.
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